Sunday 25 October 2015

Grata surpresa

Lá pelos anos de 2004 estagiei durante um mês na empresa de engenharia do meu tio engenheiro e durante aquele período visitamos uma cidadezinha no sul da Bahia, bem de interior, clássica representação do apogeu dos coronéis do cacau da primeira metade do século XXI. 

Pois bem, durante a tal visita estávamos observando a bem cuidada praça central e seu belíssimo coreto de ferro forjado na Alemanha, quando iniciamos uma conversa sobre a influência positiva que locais belos, no sentido arquitetural e paisagístico traziam para a população daquela comunidade. Pouco tempo antes havia lido ou escutado que cidades com referencias arquitetônicas possuíam uma população com maior auto estima do que aquelas que não tinham a mesma referencia. Era latente o orgulho que a população sentia daquela pracinha e tal apreço transcendia simplesmente a manifestação do ego individual e coletivo das pessoas e refletia em ação, pois o zelo por aquele patrimônio era grande. Fato que aquela cidade era mais bem cuidada do que suas vizinhas. 

Recentemente vivenciei outro exemplo de que tal pensamento faz sentido. Em viagem a cidade de Guararema, interior paulista, deparei-me com um local muito bem cuidado, com uma infraestrutura preparada que valoriza e preserva o recurso mais valioso da cidade, o seu rio. Lá a natureza é protagonista e a infra estrutura desenvolvida pela mão humana funciona à seu favor. Diversas pontes para pedestres, passeios de madeira preservando a flora local, boa sinalização, programa de coleta seletiva (lembrando que Guararema possui 25 mil habitantes), limpeza urbana e das reservas e até calçadas no mesmo estilo em todas as casas são pequenos exemplos da estruturação da cidade. O mais marcante e significativo disso tudo é que ainda há o fator humano, pois é palpável que as pessoas da cidade acreditam nessa proposta de Ecoturismo, desde da pessoa publica (estado) que investe na contratação de monitores para educar a população a não alimentar os peixes do rio à pessoa física que busca ao máximo manter suas casas e suas ruas bem cuidadas. 

Fonte%3A%20Prefeitura%20Municipal%20de%20Guararema%20-%20www.guararema.sp.gov.br

É um ciclo virtuoso onde as pessoas compram a proposta e à defendem; o empresário investe em negócios de bom gosto e qualidade; e a prefeitura enxerga que manter aquilo pode ser muito bom para a cidade, no caso de Guararema, alem da cidade possuir ótimos restaurantes e cafés, os turistas aparecem aos montes, tomando a cidade aos finais de semana.

O terceiro e último exemplo desse ponto de vista foi observado na minha ultima ida à igreja. Lá a secretaria colocou no mural o resultado do Censo Paroquial 2015 analisando aquela comunidade especifica, mostrando a característica geosocial, etária e os principais interesses e opiniões quanto a      
vida social religiosa da população pesquisada. Quando perguntados o que gostariam de ver melhorado na igreja, a maioria da população colocou em primeiro lugar: "Reforma do som, iluminação e renovação visual da igreja". Influenciado ou não por estar escrevendo sobre esse tema, interpretei que inconscientemente o desejo da população em ter aquele lugar renovado e com isso sentir orgulho de ter o seu templo de oração ostentando beleza e inspiração.

Sempre acreditei no poder influenciador da arquitetura monumental e acho fantástico como ela inspira e eleva a moral das pessoas, defendo ainda uma política de planejamento urbano que contemple essa pratica deixando espaços dentro das cidades e verbas para esse tipo de arquitetura/urbanismo. Inconscientemente as pessoas procuram isso, como se buscassem provas da capacidade humana ou divina/natutal em construir algo maior que o indivíduo. Isso é observado desde o ato dos visitantes de Guararema rumarem para a beira rio até o enxame de pessoas indo para o Empire State em Nova York. 

Sunday 26 July 2015

Di Menor

 Na atual cruzada social que tem sido feita ao redor da discussão da maioridade penal no Brasil, mais uma vez mostramos nossa limitação para exercer um DIALOGO entre as diferentes opiniões que acabam se polarizando: direita & esquerda, liberal & conservador, certo & errado, etc. Opinião extrema sempre indica que algo não esta certo, pois em um universo tão complexo quanto a nossa sociedade, unanimidade é uma utopia que poucos anseiam em querer. Ceder e dialogar sao verbos que devem ser exercitados.

Antes de ser a favor ou contra acho que essa discussão é uma causa perdida para ambos os lados. Dos "a favor" que possuem a ilusão de que algo será mudado ou os "do contra" que perdem um tempo enorme e os nervos tentando defender suas ideias. O que deve ser analisado é a motivação que é reflexo desse projeto de lei. 
  
Acredito que essa bandeira da discussão da redução da maioridade penal é uma medida de pessoas desesperadas por justiça. Entretanto elas não entendem que não a encontram no papel, através de uma lei, mas sim em um conjunto de ações concretas e reais. Há um consenso que toda real mudança se dará através da educação, mas que educação? Essa que está ai desmotivando professores, sendo conivente com baixas performances dos alunos para simplesmente melhorar os índices e virar plataforma eleitoral que reflete, no final, em uma educação de baixíssima qualidade?    

Sem considerar esse pequeno detalhe, uma geração que seja fruto de cultura educadora demoraria, ao menos, 20 anos, ou mais, para aflorar. Considerando o ponto anterior, da qualidade da educação, vai saber se um dia conseguiremos formar essa geração. De qualquer forma o tema violência não podem esperar 02 décadas, precisam também de ações imediatas e que reflitam na diminuição efetiva da impunidade, atentando às percepções e  às conseqüências que ela gera.         

Polemizando, pela proposta a ser colocada e pela superficialidade que dediquei ao tema, imagino que colocar mais presos atras das grades já demonstrou que não resolverá nada. Uma alternativa seria adotar uma política de tolerância zero e execução rápida das sentenças que não refletissem em reclusão para crimes de baixa periculosidade. Multas, trabalho comunitário e atos de exemplificação publica, exemplo, chicotadas em publico são algumas das propostas que caracterizam por ser de rápida execução e com certo grau de eficiência vs. o encarceramento. 

O exemplo norte americano da década de 1930 onde presos trabalhavam em obras de infraestrutura do governo pode ilustrar o que quero dizer, outra pratica seriam as multas imediatas, tipo fiança, que também são largamente utilizadas. Único ponto diferente à cultura ocidental e mais polêmico é o da exemplificação pública que não é de longe a melhor alternativa, entretanto pode ser vista como ação eficaz para iniciar o fim do circulo vicioso da percepção da impunidade. A partir do momento em que houver essa percepção, os crimes e transgressões irão naturalmente diminuir. Nova York no final da década de 1980 e início da de 1990 combateu a escalada assustadora da violência que lhe afligia dessa forma, tolerância zero. É claro que medidas com essas características andam em uma linha muito tênue e que muitas vezes avançam ao exagero e tem sua eficiência limitada ao longo prazo de tempo. A resposta mais sustentável ainda é através da educação.

Observando tudo o que defendi até agora, percebo um flerte intenso da minha parte com a contradição, pois educação e repressão podem coexistir como propostas convergentes para a segurança publica? Sim, como política publica permanente e não de forma isolada e efêmera como vemos nesse projeto de lei.              





Tuesday 24 February 2015

#01a semana: Indicação leitura: "A Era do Ressentimento"

Cheguei à conclusão de que tenho que melhorar a minha leitura, pois fazia um bom tempo que um livro não me fazia mexer na cadeira de desconforto. Curto e grosso, seria a perfeita descrição desta obra que possui capítulos curtos e de rápida leitura, bom até para uma viagem de elevador (se for mais do que 10 andares).
Dentro das minhas limitações e às do próprio livro, pois o mesmo não se aprofunda muito nos temas abordados, há algumas reflexões muito interessantes que são levantadas pelo autor, que como todo filósofo que se preze só abre a sua cabeça deixando-a com mais perguntas do que respostas. Quando você se pega com a sua cabeça saindo fumaça você lembra de como a "ignorância era uma benção".



A Era do Ressentimento - Uma agenda para o contemporâneo. PONDÉ, Luiz Felipe. Leya, 2014. Tem como Primeiro ponto de destaque a forma como o autor, me provocou a refletir, através de seu vocabulário um tanto quanto"chulo" que me gerou varios desconfortos, "- Pô, que babaca esse cara!", poderia ter usado um palavras mais "civilizadas", mas com o decorrer do livro percebi duas coisas: 01) que quando ele se utilizava desse modo de escrever a medida que me incomodava, percebia que aquela parte era a que me chamava mais atenção e daí as reflexões para esse tema eram mais intensas. O vocabulário chulo era como o autor dava intensidade às suas frases sem utilizar o ponto de exclamação "!". 02) por se tratar de de um tema contemporâneo, o meu dia a dia e os meus hábitos foram alvo da crítica do livro.
Aproveito esse gancho e entro em um dos temas que mais evocados no livro: o narcisismo da sociedade "digital". Pondé não mede palavras para criticar a forma como a sociedade comporta-se hoje, principalmente, através das redes sociais.

"(...).Lembrarão de nós como mimados, ressentidos e covardes.(...)" p.20

"(...). O fato das pessoas se comunicarem e de haver relações econômicas globais e computadores que "se comunicam", não implica em "redes" de significado integrado ou processual, isto é, não há nenhum avanço total na sociedade. Cada pessoa ou grupo se move em cultura de significado e valores distintos e conflitantes, (...)" P.24

Sempre gostei e vivenciei (sem sofrer muito) do conceito de "sozinho na multidão", este mal, síndrome ou qualquer diagnóstico que queiram dar é sistêmico nos grandes conglomerados humanos e o autor trata do tema já vencendo a etapa dos seus efeitos sintomáticos indo direto para analisar as suas consequências sociais e antropológicas. O vazio da alma existente sem consciência e sem perspectiva de cura faz com que os instintos de sobrevivência e de evitar a dor criem artifícios para maquiar a dura realidade. Percebendo o alívio momentâneo, as pessoas exacerbam a importância e o significado dessa maquiagem, distorcendo os valores reais e tornam-se extremamente narcisistas.

"o narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é miserável afetivo. Mas por viver se lambendo, pensando ser ele alguém que se ama muito, sendo que, no entanto, é justamente ao contrário. Incapaz de ter vínculos, o narcisista vive a serviço de si mesmo. (...)" P.41

"(...). Não há cura para uma verdade, apenas modelos de enfrentá-la ou evitá-la. A covardia contemporânea é nosso modo específico de evitar essa verdade íntima." P.44

O parque de diversões do narcisista e da sociedade ressentida são as redes sociais os olhos de Pondé. 

"(...) A vida comunidade encolheu na sua totalidade. O casal secular tem filhos apenas como projeto pessoal e com forte expectativa de retorno afetivo. No máximo dois Filhos por casal, ou nenhum. "Amamos" mais nossos filhos e de modo obsessivo. Mas esse "amor" é muito mais projeção de nossos desejos do que amor por eles." P.27

Muito da análise crítica do livro evoca tempos passados como de forma comparativa à atual, mesmo que o autor negue explicitamente, percebe-se que em sua opinião, o ontem é melhor do que o hoje. Nesse ato de evocar o passado de forma comparativa insinuando uma degradação da evolução social, questiono-me se o passado havia mais conteúdo? Éramos mais inteligentes, sábios e dignos de sermos lembrados na história.?  Não sou muito confiante nessa linha de pensamento, acredito que somos repetidores. Reprisamos os medos, defeitos e erros de nossos antepassados, apenas em um contexto diferente. Imagino que nossa curta existência e consequente mortalidade não nos ajuda a evoluir. Privilegiamos os jovens como força de trabalho, mas que por sua vivacidade há muita atitude intempestiva e inconsequente, enquanto os velhos e sábios são esquecidos relegados à sobra e alimentando apenas os seus Alzheimers. 
Pincelando sobre esse assunto, diria que o jovem imprudente e cheio de tesão criaria as coisas para o mundo novo, enquanto o VELHO, pela experiência e disciplina aperfeiçoaria a criação do jovem tornando-a factível e útil ao mundo. Mas sabemos que não é assim.

"(...) Não envelhecemos, apodrecemos. A maturidade está fora de moda. O espelho é nosso algoz. Os mais jovens, em pânico, fingindo que não, sofrem diante de pais e mães ridículos em seus modos e rostos falsamente juvenis. (...) Todos querem fingir que tudo pode ser uma balada. 'Eu me invento', eis o mandamento máximo do ressentido. Denegação absoluta." P.61 

No fim das contas, sou um narcisista. Agonia-mo de ser, fico tentado (instintivamente) arrumar um modo de não ser, de falar que os outros são, traço ai o caminho do ressentimento exposto em todo o livro. Negar e escapar não dá, tem que entender,  aceitar e enfrentar. Como? Cacete de filósofos! Cadê a resposta?

Monday 12 January 2015

“48 a contar”, por que começar? (#00)

Ano novo surge sempre com muitas frustações de promessas não cumpridas do ano anterior: o peso que ganhei ao invés de perder, os livros não lidos, a língua nova que só ficou no papel, etc. A lista sempre é grande, mas ao mesmo tempo, o ano novo traz um horizonte de novidades e que tudo é possível apesar das nossas limitações, fraquezas e senso de auto sabotagem.

Como sonhar não custa nada, ainda mais na virada de ano, um texto que li (esqueci o autor e a fonte) me inspiraram a fazer esse projeto que de inédito não tem nada (apenas para mim).

“48 a contar” trata-se de um compromisso semanal de ter uma estória nova para contar baseado em experiências das mais variadas e que para mim, foi diferente à minha rotina.
É um exercício que busca me tirar da zona de conforto, sair do hábito cotidiano, conhecer lugares e vivenciar experiências novas. Isso provoca a criatividade, a imaginação e por que não, fazer sonhar mais?

Vale de tudo: cozinhar, ir em um lugar novo, fazer uma atividade diferente, ver um filme novo, ou até mesmo fazer mais do mesmo, mas de uma forma ou sob uma ótica reflexiva diferente. Acima de tudo, é algo que eu consiga chegar no final e dizer que foi relevante para mim. Dessa forma, caro leitor, você pode se sentir empolgado ou entediado, mas esse é um projeto um tanto egoísta que é feito para mim. Outros gostarem, ou acharem legal é um efeito colateral muito bacana e que não tenho a pretensão ou a expectativa de ter, mas de qualquer forma, todos estão convidados a participar lendo, comentando e, por que, não juntar-se em um projeto próprio!

Já estamos entrando na segunda semana de janeiro. Vou acabar postando uma história atrasado, mas a ideia é manter o cronograma.


Que comece a aventura...

Wednesday 24 December 2014

Fragmentos de uma viagem: Lima, Peru

Um projeto de anos com amigos de faculdade que demorou uns 07 meses de programação e que em setembro de 2013 se realizou. Esse é o contexto dessa viagem que tem como destino Machu Picchu, a ultima cidade do império Inca, preservada pelas montanhas e que fascina o mundo inteiro.

Pois bem, nossa viagem de 15 dias tem como porta de entrada a capital do Peru, Lima.

Lima, dia 01 

3 é igual à 2,5! Com essa afirmação começamos nossa viagem. Pois entraram 3 no avião em São Paulo e só saíram 2,5, pois o Rivotril não permitiu o Rodrigo estar nem 50% presente na chagada à capital Peruana. Mongol e babando ele foi pelo tour que fizemos pela orla do famoso bairro de Miraflores, só acordando um pouco ao chegar no restaurante para apreciar a tradicional culinária peruana regado, é claro, à Drinks de Pisco.



Aos poucos toda a turma foi tendo seu índice de sobriedade comprometida pelo cansaço e tudo o que passamos a querer. Às 2:30h fizemos nosso check in no albergue Pariwana. O Rodrigo estava tão drogado pelos remédios que nem tomou banho, embora fomos perceber ao longo da viagem que o não tomar banho virou um hábito independente do remédio.


LIMA, dia 2.

Ao invés de acordar com um Bom dia dos amigos, fomos despertados com um fúnebre: "SALKANTAY" proferido pelo Rodrigo. O negocio foi tão sinistro que ficou marcado. Foi também nesta manha que surgiu o bordão  "estou empasinado" por conta do super jantar do dia anterior. Ficamos repetindo esta frase praticamente a viagem inteira.

Tour por Pachacamaca no ônibus panorâmico e por Lima (Miraflores, Barranco, playas). 40km separa Pachacamaca do centro de Lima, um sítio arqueológico de mais de 1500 anos e que teve sua arquitetura influenciada pelos Incas, Limas (resto dos povos) e outros povos pre colombianos.


Nesse segundo dia, o Elton já ia demonstrando que é um sujeito de fácil adaptação e rápido aprendizado à cultura local e já ia dando sinais de fluência na língua italiana (!!!!). Sua interação era absoluta, não importando a nacionalidade: americanos, peruanos, argentinos recebiam um caloroso "Grazie" do nosso amigo profeta.

Após a visita no sítio, fomos almoçar em um restaurante temático com exibição de cavalos (dPaso). Local bem turistão, mas ainda tem o seu valor. Como não poderia faltar a gastronomia do lugar era típica e de ótima qualidade, mas a um preço salgado bem salgado. Entretanto o fato de estar num lugar onde todos estão de férias ajuda a criar um clima bastante propício e descontraído para a diversão, e foi exatamente isso que aconteceu. No final do almoço vários "amigos" foram feitos!


Mas o melhor do dia ainda estava para acontecer. No período da tarde fomos ao Mistura - Festival internacional de Gastronômia do Peru. Festival muito famoso e concorrido evento com muita gente (publico de oktoberfest). O alto do evento é o vasto cardápio oferecido em galpões regionais (com vários restaurantes) de todas as regiões do pais: mundo amazônico, mundo das brasas, mundo limeno, mundo andino, mundo oriental, mundo ceviche, etc).

Apesar do alto índice de empasinamento do Elton, esse é, de longe, o melhor festival gastronômico que já fui, pois reuniu em um único lugar diversidade, qualidade e a um preço justo (13 soles o prato +/- R$ 11). Como coadjuvante, boa música e danças folclóricas! Imagino que haja uma "curadoria" para o evento, pois foi muito certeiro todas atrações. Brasil aprenda com o Mistura!

Outro ponto forte do evento (e da viagem em geral) foi a interação e receptividade do povo peruano, é algo realmente de se deixar em nota. Prestatividade de estar sempre ajudando, recomendando lugares e comidas, como fazer para se deslocar de forma segura e barata sem pedir nada em troca foi algo que nos chamou atenção, especialmente o Rodrigo que ao ir embora do evento, tão sensibilizado por esse espirito, anunciou ao taxista Raul, que nos levou de volta para o Hostel, que acabara de obter a dupla cidadania, tornando-se ali também um Peruano.

Esse aspecto de interatividade com o povo local rendeu mais um momento para ser contato ao longo dos anos. Estava lá, na fila do banheiro, os 3 amigos sem noção conversando entre si coisas ainda mais sem noção. Obviamente que a empolgação do Elton ao retratar um episódio do Porta dos Fundos, fatalmente acabaria repercutindo nas pessoas ao lado, esse caso especifico estamos falando de "Raul" (nome fictício dado ao nosso amigo da história). O episódio em questão falava de um homem que resolve provar que o colega de trabalho é viado e para tal se dispõe a dar a "bundinha" para e ele. Lá no meio da história, bem longe do clímax o Rodrigo cutuca nós dois ao perceber que o, ainda desconhecido, Raul estava com o rosto grudado no ombro do Elton ouvindo a história e se matando de rir. Foi a deixa para chama-lo à roda e fazer com que o Elton tentasse terminar a história antes que a nossa vez no banheiro chegasse. Entretanto a estória passou a ser praticamente impossível de ser terminada, pois um número incontável de sessões de risadas iniciou-se a partir daquele momento. Por fim, o Elton não conseguiu terminar de contar o episódio, mas ficou o registro de mais um amigo deixado pelo caminho.


Já era noite e o nosso "real" primeiro dia no Peru havia chegado no fim e Lima havia se mostrado muito mais do que um mero porto de entrada no Peru, mas sim um belo cartão de visitas que vale a pena visitar por uns 3 dias.

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Algumas dicas para os viajantes que queiram contar suas histórias:
 
1) Caso você vá viajar para qualquer lugar e deseje fazer um relato dos dias que você passou lá, faça um resumo diariamente e de forma dissertativa, pois se passar uma semana que seja a experiência não será a mesma, nem o relato. Por conta disso, você verá nesse blog, ou na série deles, que os relatos são fragmentos vividos do que passamos, mas não havendo uma conexão forte entre os relatos.

2) Ao viajar viajar com amigos, a bobeira impera, dessa forma o leitor perceberá a descrição de muitas dessas passagens, sendo elas sem sentido e um tanto sem importância, mas esses detalhes construíram a maravilha de viagem que foi.


Thursday 22 May 2014

Meu velho camarada

Ao passear no shopping me deparo com uma fila fora do comum em um novo quiosque na praça de alimentação, tal quiosque vendia Picolé Frito Mexicano, uma novidade aqui em Florianópolis, acredito que também seja em todo o Brasil. Isso me fez refletir como a novidade e a exclusividade tem um valor forte para as pessoas, enquanto os produtos commoditizados facilitam nossa vida por estarem em qualquer lugar. Entendam por produtos commoditizados citados aqui: McDonalds, Lojas Americanas, Livraria Saraiva, etc. 

São bons, tem em tudo quanto é lugar e vejo que o Picolé citado acima passará a mesma percepção em breve.


Nas minhas andanças, me deparei com eventos e situações que comprovam como a novidade e a exclusividade são valorizadas, cito dois exemplos:

1) Quando morava em Goiás e viajava muito para pequenas cidades, em uma dessas viagens (que não lembro o nome da cidade), sentado e um restaurante na praça principal (exatamente aquela praça que tinha de um lado a igreja, em outro lado a prefeitura e em outro o Banco do Brasil) tinha uma faixa atravessando a rua principal bem próximo à um semáforo desligado com os dizeres que parafraseio aqui: "Neste sábado, grande inauguração do primeiro semáforo da cidade". Pensei comigo, cuma!?

2) Outro momento interessante era a ansiedade vivida pelos moradores de Guarapari, pelo menos para aquela amostra de população que eu convivia, dos rumores de que uma empresa de grande repercussão fosse aportar na cidade. O ano era lá por 1995 e o rumor digno de página de jornal era que o McDonalds poderia se instalar na cidade. Ponha isso na cabeça de um bando de adolescentes famintos que dá para se ter a ideia do estrago. No fim, nada de McDonalds o local virou uma padaria.

Acho que deu para pegar o espírito da coisa, né?

Como coisas tão banais em grandes centros, tornam-se acontecimentos sociais em outros lugares poucos quilômetros de distância?
Com esse pensamento em punho volto à ideia do meu último blog quando citei sobre o nosso hábito de transferir aos objetos (e agora instituições) uma importante carga sentimental, na esperança de que esses "pobres coitados objetos" consigam reter por tempo indeterminado nossas mais vividas lembranças de pessoas e momentos especiais onde nós nos sentimos valorizados.

Ao dissertar sobre isso, me veio um questionamento que achei muito interessante: como e com qual intensidade transferimos aos objetos um valor emocional tão intenso que criamos uma relação intima com ele ao ponto de guardamos por anos a fio e termos a sensação de perda quando ele estraga ou temos que descarta-lo?!

Tenho uma experiência pessoal para compartilhar com vocês que fala exatamente sobre isso:
"Nossa história começou em 2007, o ano mágico, estava eu lá nas terras da rainha curtindo o que a vida tinha a oferecer e sempre acompanhado com uma mochila do programa de intercâmbio. Em poucos dias, a mochila sucumbiu ao 'peso' que aquela viagem iria lhe proporcionar. Limitado por um curto orçamento, parti na busca de uma substituta e consegui achar uma promoção na GAP de uma mochila que aparentemente aguentaria a pressão daquele ano.

Logo se tornou a companheira diária para as idas à escola Aspect e ao Grange City Hotel. Não demorou muito para começar a conhecer os países da Europa comigo. Nessas viagens como muitos mochileiros faziam, comecei com o hábito de colocar bandeiras (patches) uma vez visitado cada lugar, tal hábito se tornou um vício e até hoje, 7 anos depois, ela me acompanha e, surpreendentemente, sempre arruma um espaço extra para uma nova bandeira. Não sei desde quando, mas ela passou a se chamar My Old Camarade.
Ano 01 - Apenas uma mochila da GAP
Ano 03 - Já testemunha do mundo

   
Ao longo desse tempo, ela cambaleou várias vezes, necessitando de um remendo aqui e outro ali. Aqui vale menção honrosa de agradecimento à minha mãe por ajudar nesse processo de manutenção e à Fabi no processo de custura das bandeiras. Nos últimos anos, antes de cada viagem ela passava por uma recauchutagem para aguentar a próxima aventura: o fundo que rasgou, a alça que desfiou, etc. Hoje ela está mais para um Frankenstein de tanto remendo.

Ano 6 - Boa tentativa, mas frustrada de substituição
Na viagem de 2012, a turma, gentilmente quis me homenagear e compraram uma linda mochila para substituir a combalida, e um tanto decadente, Camarade. Confesso que é linda e fiquei tentado à descusturar as bandeiras e transferir para a nova mochila, entretanto ao olhar para aquele trapo remendado, sujo e um tanto fedido eu me identifiquei. Não seria fácil me desapegar dela, mas acima de tudo, eu não queria isso, fosse o que fosse eu iria fazer de tudo para mantê-la útil para mim durante minhas viagens, pois ela era prova de que muitos dos meus sonhos se realizaram e de que poderia sonhar novos sonhos. A história dessa mochila se confunde com a minha história e por mais imperfeita que fosse era minha e era única. Todo mundo pode comprar uma mochila da GAP, os patches dos países e costura-los da mesma forma, mas nunca será uma Old Camarade."

Ano 07 - Ultimo update
Hoje ela está com problema de zíper, tenho que troca-lo e não está fácil de arrumar um novo, para os que querem ajudar o tamanho tem que ser maior de 60 cm, com 02 puxadores e ser de metal.
Valeu!

Monday 3 February 2014

Vai um "recordation"?

"Viajem é o oxigênio da alma" quem já não escutou alguma vez essa máxima?! 
De fato é! Saímos da rotina, nos deparamos com pessoas e culturas diferentes que expandem nosso horizonte mostrando que o mundo é muito mais do que nossas 8 horas de trabalho e as 8 horas de sono.
Nesses contatos com pessoas e lugares somos entorpecidos com uma sensação muito boa toda aquela carga cultural e exótica que temos contato faz com que ansiamos enormemente por parte daquilo. Desejamos possuir mais dessa experiência do que aqueles breves minutos ou horas, queremos carregar aquela sensação muito além daquele momento e que seja além de uma breve lembrança que o tempo e o dia a dia se encarregarão de tornar mais desfocado e menos colorido.    
Por conta disso, recorremos à todos os subterfúgios disponíveis: entupimos nossas câmeras de fotos, gastamos muitos reais (já convertidos) em restaurantes de comidas típicas, e outros tantos reais comprando objetos ou lembrancinhas (como acharem melhor) que acreditamos ter o poder de reter nele toda aquela magia ali vivenciada.
Quando retornamos, aquela lembrança já não é mais um mero objeto, ela tornou-se um ídolo cheio de valor e é colocado em local de destaque em nossa casa, trazendo constante recordação de toda alegria vivenciada naquele momento.  
O tempo vai passando, e as lembranças recentes da viagem vão sendo substituídas pela conta de Iptu paga, pelo novo modelo de carro que foi lançado e de como trabalhamos muito na última semanas. O ídolo vira paisagem, entra no lugar comum e dificilmente despertando suspiros de um momento mágico vivido em um passado que agora parece tão distante. 
Subitamente o ÍDOLO vai para uma categoria que chamaria de  "PÁQUESERVE?", denominação esta que faz você tecer a seguinte frase
" - Onde estava com a cabeça quando comprei isso?!"
Subitamente, além do objeto não possuir mais nenhum valor e não acessar mais nenhum desejo e memória que o justificasse estar ali, ele passa a ser um estorvo, incomodando e finalmente sendo posto de lado proporcionando uma sensação de alívio. 
Mas o que mudou?
O objeto ou nós mesmos? Por mais óbvio que pareça, digo que o que foi que mudou fomos nós! Voltamos a achar que o nosso mundo se resume ao Iptu, à vangloriar novos carros e aos problemas do trabalho, colocamos novamente a viseira de burro e achamos que o nosso mundo se resume à isso (que o "isso" seja a coisa e a rotina mais banal que você quiser achar).
Termino esse blog falando outro bordão que vai resumir a mensagem final: 
"- Viajar é preciso!"
Mesmo que a viagem seja dentro do seu apartamento olhando para aquele banal objeto colocado em sua prateleira, mas que você não olha com os menos olhos de antigamente.