Tuesday 29 April 2008

Lembranças daquele tempo.....

Novembro de 2002 se não estou enganado é a data. Férias malucas de meio de ano da UFES coincidiram com as férias do meu pai.

"- Lô, topas viajar para Salvador de carro?'' Perguntou ele.

De bate pronto disse ''Claro!".

''- Tia Terezinha e Tio Mozart irão também com a gente, ok?!''

Para mim sem problemas, quanto mais gente melhor.

Era sexta feira pela manhã quando zarpamos de Vitória no memorável Tempra e fomos para a nossa primeira parada: São Mateus que fica há uns 200 km da capital. Lá, passamos na rodoviária e nos encontramos com o restante da equipe de viagem que vinha de Boa Esperança (mais no interior ainda).

Olha só... faz 6 anos que essa viagem aconteceu e eu não me lembro de vários detalhes, mas lembro que ao pararmos para almoçar em Teixeira de Freitas, NA BAHIA, começou uma crise de choro para entrar nos anáis. Tio Mozart fez ou falou alguma coisa que eu e Tia Terezinha não nos aguentamos. Como rir da cara dos outros na frente dela nunca é boa coisa, sobrou para nós esporro para tudo quanto é lado. O problema é que com isso, a situação ficava mais grave, pois quanto mais ele dava esporro, mais eu e tia Tereza riamos! Mas que eu não consigui ainda me lembrar o que o Tio fez para provocar tal comoção, isso eu não lembro mesmo!

Para muitos que não sabem, Tia Terezinha é a irmã mais velha de papai e Tio Mozart seu digníssimo marido. Os dois têm 6 filhos, primos da melhor catigoria.

Como Salvador fica há generosos 1200 km de Vitória e estavamos de férias, resolvemos fazer alguns pit-stops estratégicos ao longo trajeto. O primeiro foi em Porto Seguro na casa do Tio Naldo (um dos irmãos de Papai e, claro, da Tia Tereza). Aqui vale um comentário, no final das contas, como vocês perceberão, essa foi uma viagem de visitas aos irmãos da família Schwanz.

Da esquerda para direita: Tio Tata, Tio Naldo, Papai e Tia Terezinha.

Lá muito bem recepcionados com uma farta e constante mesa de comidas além de uma programação de atividades da melhor qualidade com direito a passeio de lancha, pescaria de siri, jogar peteca, além das tradicionais visitas à Passarela do Álcool e da Cidade Histórica. Desses dois últimos Tio Naldo lamentava horrores, pois sabia das inúmeras vezes que o guia-pirralho jurava de pé junto que sabia de coisas que nem Cabral sabia.... Haja saco! Mas faz parte da vida do morador de cidade turística, agora aguenta!

Tio Mozart ficava prá lá de curioso com o horário da próxima refeição em vista ao excelente tino que a Tia Deca (esposa do Tio Naldo) tem no preparo de maravilhosas iguarias. Nem terminavamos de nos empanturrar com o almoço e ele queria em detalhes o cardápio do jantar.

Entre reições tinha um programa que se tornou obrigatório na viagem toda: o de jogar várias e várias partidas de buraco, por horas a perder de vista... paciência teria limite com relação a isso, mas é história para o futuro.

No domingo, continuamos nossa viagem e partimos para Valença (com direito a uma rápida parada para almoço e fotos em Ilhéus). Valença em si não tem nada, mas é dali que todos iríamos para o paraíso: MORRO DE SÃO PAULO. Quando coloquei 'todos iríamos' em negrito não foi a toa. Digo isso porque no dia seguinte na hora de embarcar para Morro Tio Mozart disse que tinha medo de andar de barco e que não iria. Sua posição era inflexível, assim como a minha (favorável à ida) - Até sugeri dar sonífero para ele para conseguirmos embarcar, mas meu Pai só me deu aquele olhar... Por fim, meu Pai resolveu ficar com Tio Mozarth e falou para eu e Tia Terezinha irmos. Nem precisou falar duas vezes... e os dois já estavam dentro do barco.

Que lugar! O genuíno pedaço do paraíso na Terra. A praia, a tranquilidade, a vila, as pessoas, o tempo, a natureza, o barzinho que vende lambreta, as trilhas, o cemitéiro e a igreja antigos. Morro de São Paulo é o lugar! Para o meu pai que já conhece meio mundo... é a segunda praia mais linda do Brasil (A primeira é Fernando de Noronha).

De volta à Valença, Tio Mozart falando que tinhamos perdido a cidade e meu pai com cara de meia noite. Aff... que dilema... hehehe.

Seguindo viagem, agora sim com destino à Salvador, na busca de um caminho mais aprazível fomos por Itaparica e pegamos o famoso Ferryboat que atravessava a Baía de Todos os Santos. Por ironia do destino, Tio Mozart não só entrou e navegou, como também adorou o passeio...

Por fim... chegamos na casa do Tio Tata... o caçula da família... nossos dias lá se resumiam aos seguintes programas... manhã: praia, pelourinho, mercado municipal, elevador lacerda, praia e por ai vai. Almoço era na casa do Tio Tata. Depois do rango, juro para vocês, começava a jogatina até as 5:30. Quando achavamos que nesse horário todos estaríam estafados.... Tio Tata chegava e prolongava ainda mais os comprar e baixar cartas. Daí veio o fim da paciência com o programa...

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Resgatei essa história das profundesas da minha memória para homenagear o Tio Mozart que esta semana nos deixou. Nada muito nobre, nem melancólico, simplesmente uma passagem, um fragmento do cotidiano com as chateações e as alegrias que o convivio humano proporciona a todos nós e que valem muito a pena ser lembrado, sempre.

Tio Mozart é o de camisa vermelha no canto da foto.

Ouvi de várias pessoas que não era para ficar triste, pois esse tipo de evento faz parte da vida, mas acredito que ficar triste faz parte. Um certo tipo de homenagem, uma reflexão de quão rápida é nossa passagem por aqui e uma análise do que fizemos até então. Fico triste para poder ter mais um aprendizado com ele.

Tio, seu anel com a pedra rosa, o dedo mindin inflexível sempre apontando pro lado errado da onde você queria indicar (e que era motivo de eterna piada), o carteado que você sempre adorou, as cachaças que bebeu sempre serão lembrados com muito carinho. Mas o seu legado, o seu verdadeiro legado está em Boa Esperança, Vitória e em outras cidades que a vida leve seus filhos em busca da felicidade. Olhando para eles.... seu trabalho foi feito com sucesso e será sempre lembrado! Vá com Deus e olhe por todos nós aqui em baixo!

By Lora (como só vc me chamava).

Tuesday 1 April 2008

Onde co tô, donde co sô e pronde co vô

Há uns dez anos deu-se início a minha vida cibernética. De todas as inimagináveis possibilidades que a novidade oferecia, para mim, ela se resumia basicamente aos chats (Zaz, Uol, Bol, Zipmail, etc.), achava aquilo o máximo. A possibilidade de conhecer pessoas de outros lugares, outras línguas, além de flertar com as diversas Paloma’s, Taty’s e Jessica’s imaginando umas princesas, mas que na verdade havia grandes possibilidades deles serem Paulo’s, Tonho’s e Joõe’s, cheios de pelos e urticárias.

Decepções à parte, uma vez nesses bate-papos, o desafio era engrenar uma conversa bacana, para isso, era necessário passar das 05 primeiras perguntas:

01) Oi, Ta afim de tc?
02) Como se chama?
03) Quantos anos?
04) Donde teclas?
05) O que gosta de fazer?

Se algo que não mexesse no status-quo durante essas perguntas era melhor partir para outro target. Convenhamos, se você já chegasse na ultima pergunta sem que nada diferente tivesse acontecido, poucas chances você tinha de ser bem sucedido, pois a 5ª pergunta era só para ratificar o quanto medíocre estava a conversa.

Pois bem, desde que o MSN bateu o ICQ no uso de programas de mensagem instantânea não me recordo de mais acessar esses chats abertos. E olha que já faz tempo!
Toda essa história trazida para os dias de hoje me traria alguns obstáculos. Fico imaginando as dificuldades que teria para responder a 4ª pergunta desse banal questionário se entrasse nesses bate papos.

Nunca foi tão difícil dizer da onde eu sou.

Ok. O mais fácil é dizer que sou do Espírito Santo, concordo, entretanto fico mordido quando as pessoas respondem: “- Ahhh, capixaba!”. Ehh lê lê, não sou capixaba, sou linharense. Capixaba é quem nasce em Vitória e não no ES, para isso somos espírito-santenses.
“- Ok, então você é de Linhares, mas, antes de Bauru, onde você morava?”

É ai que está o meu dilema. Vim para a região de Bauru em fevereiro, quase um mês antes estava de mudança para BH. Posso me considerar morador de uma cidade com tão pouco tempo, sem casa e sem guarda-roupa?

“-Tá, então antes de BH, onde você estava?”

Dilemas e mais dilemas. Cheguei em Vitória oriundo da Inglaterra no início de dezembro. Fazendo uma matemáticazinha básica: chegada em Vitória (x) mudança para BH = 01 mês. Creu! Posso considerar que voltei a morar em VIX depois de 08 meses morando na terra da rainha?

Nessa hora o cara já desistiu e me dá a origem que bem entende, mas o problema não é ele. Desesperadamente quero responder essa pergunta: De onde sou? Amigos, discípulos de Paulo Coelho me aconselham: “-Pergunte ao seu coração.”.
No fundo, me considero linharense, guarapariense, capixaba, viçosense e londrino. Um pedaço de mim está em cada uma dessas cidades com maior ou menor intensidade e uma coisa que não dá para fazer é expurga-las de mim. Até BH e Bauru já estão nos anais. This is my gift and this is my curse.

Essas andanças me proporcionaram fazer inúmeros amigos e tenho orgulho de dizer que tenho verdadeiros e grandes amizades em cada uma dessas cidades. Tantas mudanças e tantas amizades fazem com que hoje eu não me sinta tão sozinho em Belo Horizonte e até mesmo em Bauru, vou constantemente à Guarapari, meus pais ainda moram em Vitória, Viçosa e Linhares - com parentes morando lá - estão sempre presentes e Londres? Bem.... Londres é Londres.
Sabem qual a sensação de pertencerem a tantos lugares? A de que você não pertence a lugar algum. Antes eu achava que isso era reversível, mas depois de Londres percebi que é impossível.
Digo isso, pois após o confronto escancarado de diversas diferenças percebe-se que uma coisa nunca será igual à outra, exemplos:
- o real nunca valerá uma libra;
- Brighton nunca será a Bacutia;
- o prazer da minha mão esquerda em passar a 5ª marcha nunca será igual ao da direita (o do pé não muda) – ia até pedir para não levarem para o mau caminho, mas é impossível (go ahead!);
- um pic-nic nunca será tão prazeroso no Parque Moscoso como é no St. James Park;
- one tequila’s shot nunca é igual à uma dose de tequila (a não ser que mudem a metragem – se for mudar, que seja a de lá);
- a hora no Big Bem corre imperceptível a do relógio da Praça 8 é sempre meio-dia/meia-noite;
- Dois filhos de Francisco nunca cantaram tão bem quanto Two Sons of Francisco;
- Notting Hill tem muito o que aprender com o nosso carnaval;
- O inverno de lá é o verão daqui;
- O outuno de lá é o verão daqui;
- A primavera tá lá e o verão não sai daqui;
- E o verão de lá quer ser igual ao daqui;

É ótimo aqui e maravilhoso lá. Quero o melhor dos mundos e aposto que sou o único!
“This is my gift, this is my curse, but I like it”. Dois lados da mesma moeda e para aqueles que me conhecem já podem imaginar para qual eu estou olhando, pois sei que essa situação não vai mudar: Meus amigos moram em cidades diferentes, minha família está em outro estado, e minhas memórias fragmentadas pelo mundo a fora. O que poderia ser ruim acaba sendo bão dimais, pois como diria o grande filósofo Gafanha: “Tá tudo junto e misturado!”.