Tuesday 1 April 2008

Onde co tô, donde co sô e pronde co vô

Há uns dez anos deu-se início a minha vida cibernética. De todas as inimagináveis possibilidades que a novidade oferecia, para mim, ela se resumia basicamente aos chats (Zaz, Uol, Bol, Zipmail, etc.), achava aquilo o máximo. A possibilidade de conhecer pessoas de outros lugares, outras línguas, além de flertar com as diversas Paloma’s, Taty’s e Jessica’s imaginando umas princesas, mas que na verdade havia grandes possibilidades deles serem Paulo’s, Tonho’s e Joõe’s, cheios de pelos e urticárias.

Decepções à parte, uma vez nesses bate-papos, o desafio era engrenar uma conversa bacana, para isso, era necessário passar das 05 primeiras perguntas:

01) Oi, Ta afim de tc?
02) Como se chama?
03) Quantos anos?
04) Donde teclas?
05) O que gosta de fazer?

Se algo que não mexesse no status-quo durante essas perguntas era melhor partir para outro target. Convenhamos, se você já chegasse na ultima pergunta sem que nada diferente tivesse acontecido, poucas chances você tinha de ser bem sucedido, pois a 5ª pergunta era só para ratificar o quanto medíocre estava a conversa.

Pois bem, desde que o MSN bateu o ICQ no uso de programas de mensagem instantânea não me recordo de mais acessar esses chats abertos. E olha que já faz tempo!
Toda essa história trazida para os dias de hoje me traria alguns obstáculos. Fico imaginando as dificuldades que teria para responder a 4ª pergunta desse banal questionário se entrasse nesses bate papos.

Nunca foi tão difícil dizer da onde eu sou.

Ok. O mais fácil é dizer que sou do Espírito Santo, concordo, entretanto fico mordido quando as pessoas respondem: “- Ahhh, capixaba!”. Ehh lê lê, não sou capixaba, sou linharense. Capixaba é quem nasce em Vitória e não no ES, para isso somos espírito-santenses.
“- Ok, então você é de Linhares, mas, antes de Bauru, onde você morava?”

É ai que está o meu dilema. Vim para a região de Bauru em fevereiro, quase um mês antes estava de mudança para BH. Posso me considerar morador de uma cidade com tão pouco tempo, sem casa e sem guarda-roupa?

“-Tá, então antes de BH, onde você estava?”

Dilemas e mais dilemas. Cheguei em Vitória oriundo da Inglaterra no início de dezembro. Fazendo uma matemáticazinha básica: chegada em Vitória (x) mudança para BH = 01 mês. Creu! Posso considerar que voltei a morar em VIX depois de 08 meses morando na terra da rainha?

Nessa hora o cara já desistiu e me dá a origem que bem entende, mas o problema não é ele. Desesperadamente quero responder essa pergunta: De onde sou? Amigos, discípulos de Paulo Coelho me aconselham: “-Pergunte ao seu coração.”.
No fundo, me considero linharense, guarapariense, capixaba, viçosense e londrino. Um pedaço de mim está em cada uma dessas cidades com maior ou menor intensidade e uma coisa que não dá para fazer é expurga-las de mim. Até BH e Bauru já estão nos anais. This is my gift and this is my curse.

Essas andanças me proporcionaram fazer inúmeros amigos e tenho orgulho de dizer que tenho verdadeiros e grandes amizades em cada uma dessas cidades. Tantas mudanças e tantas amizades fazem com que hoje eu não me sinta tão sozinho em Belo Horizonte e até mesmo em Bauru, vou constantemente à Guarapari, meus pais ainda moram em Vitória, Viçosa e Linhares - com parentes morando lá - estão sempre presentes e Londres? Bem.... Londres é Londres.
Sabem qual a sensação de pertencerem a tantos lugares? A de que você não pertence a lugar algum. Antes eu achava que isso era reversível, mas depois de Londres percebi que é impossível.
Digo isso, pois após o confronto escancarado de diversas diferenças percebe-se que uma coisa nunca será igual à outra, exemplos:
- o real nunca valerá uma libra;
- Brighton nunca será a Bacutia;
- o prazer da minha mão esquerda em passar a 5ª marcha nunca será igual ao da direita (o do pé não muda) – ia até pedir para não levarem para o mau caminho, mas é impossível (go ahead!);
- um pic-nic nunca será tão prazeroso no Parque Moscoso como é no St. James Park;
- one tequila’s shot nunca é igual à uma dose de tequila (a não ser que mudem a metragem – se for mudar, que seja a de lá);
- a hora no Big Bem corre imperceptível a do relógio da Praça 8 é sempre meio-dia/meia-noite;
- Dois filhos de Francisco nunca cantaram tão bem quanto Two Sons of Francisco;
- Notting Hill tem muito o que aprender com o nosso carnaval;
- O inverno de lá é o verão daqui;
- O outuno de lá é o verão daqui;
- A primavera tá lá e o verão não sai daqui;
- E o verão de lá quer ser igual ao daqui;

É ótimo aqui e maravilhoso lá. Quero o melhor dos mundos e aposto que sou o único!
“This is my gift, this is my curse, but I like it”. Dois lados da mesma moeda e para aqueles que me conhecem já podem imaginar para qual eu estou olhando, pois sei que essa situação não vai mudar: Meus amigos moram em cidades diferentes, minha família está em outro estado, e minhas memórias fragmentadas pelo mundo a fora. O que poderia ser ruim acaba sendo bão dimais, pois como diria o grande filósofo Gafanha: “Tá tudo junto e misturado!”.

3 comments:

ELA said...

Lendo seu post, lembrei de uma música do Titãs - que por sinal, está prestes a virar meu hino! Segue um trecho da letra:

"Não sou de nenhum lugar,
Sou de lugar nenhum.
Não sou de São Paulo, não sou japonês.
Não sou carioca, não sou português.
Não sou de Brasília, não sou do Brasil.
Nenhuma pátria me pariu.
Eu não tô nem aí.
Eu não tô nem aqui."

E só pra aumentar a sua relação de diferenças:
- Nenhuma caneca de cerveja se tonará um dia uma "original pint".
:)

Texto muito bom, cidadão do mundo!
Beijocas
ELA, diretamente de SP-Capital... Hehehehe!

Flavinha said...

Muito legal!
A sua cara mesmo...

beijos

Anonymous said...

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