Tuesday 24 February 2015

#01a semana: Indicação leitura: "A Era do Ressentimento"

Cheguei à conclusão de que tenho que melhorar a minha leitura, pois fazia um bom tempo que um livro não me fazia mexer na cadeira de desconforto. Curto e grosso, seria a perfeita descrição desta obra que possui capítulos curtos e de rápida leitura, bom até para uma viagem de elevador (se for mais do que 10 andares).
Dentro das minhas limitações e às do próprio livro, pois o mesmo não se aprofunda muito nos temas abordados, há algumas reflexões muito interessantes que são levantadas pelo autor, que como todo filósofo que se preze só abre a sua cabeça deixando-a com mais perguntas do que respostas. Quando você se pega com a sua cabeça saindo fumaça você lembra de como a "ignorância era uma benção".



A Era do Ressentimento - Uma agenda para o contemporâneo. PONDÉ, Luiz Felipe. Leya, 2014. Tem como Primeiro ponto de destaque a forma como o autor, me provocou a refletir, através de seu vocabulário um tanto quanto"chulo" que me gerou varios desconfortos, "- Pô, que babaca esse cara!", poderia ter usado um palavras mais "civilizadas", mas com o decorrer do livro percebi duas coisas: 01) que quando ele se utilizava desse modo de escrever a medida que me incomodava, percebia que aquela parte era a que me chamava mais atenção e daí as reflexões para esse tema eram mais intensas. O vocabulário chulo era como o autor dava intensidade às suas frases sem utilizar o ponto de exclamação "!". 02) por se tratar de de um tema contemporâneo, o meu dia a dia e os meus hábitos foram alvo da crítica do livro.
Aproveito esse gancho e entro em um dos temas que mais evocados no livro: o narcisismo da sociedade "digital". Pondé não mede palavras para criticar a forma como a sociedade comporta-se hoje, principalmente, através das redes sociais.

"(...).Lembrarão de nós como mimados, ressentidos e covardes.(...)" p.20

"(...). O fato das pessoas se comunicarem e de haver relações econômicas globais e computadores que "se comunicam", não implica em "redes" de significado integrado ou processual, isto é, não há nenhum avanço total na sociedade. Cada pessoa ou grupo se move em cultura de significado e valores distintos e conflitantes, (...)" P.24

Sempre gostei e vivenciei (sem sofrer muito) do conceito de "sozinho na multidão", este mal, síndrome ou qualquer diagnóstico que queiram dar é sistêmico nos grandes conglomerados humanos e o autor trata do tema já vencendo a etapa dos seus efeitos sintomáticos indo direto para analisar as suas consequências sociais e antropológicas. O vazio da alma existente sem consciência e sem perspectiva de cura faz com que os instintos de sobrevivência e de evitar a dor criem artifícios para maquiar a dura realidade. Percebendo o alívio momentâneo, as pessoas exacerbam a importância e o significado dessa maquiagem, distorcendo os valores reais e tornam-se extremamente narcisistas.

"o narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é miserável afetivo. Mas por viver se lambendo, pensando ser ele alguém que se ama muito, sendo que, no entanto, é justamente ao contrário. Incapaz de ter vínculos, o narcisista vive a serviço de si mesmo. (...)" P.41

"(...). Não há cura para uma verdade, apenas modelos de enfrentá-la ou evitá-la. A covardia contemporânea é nosso modo específico de evitar essa verdade íntima." P.44

O parque de diversões do narcisista e da sociedade ressentida são as redes sociais os olhos de Pondé. 

"(...) A vida comunidade encolheu na sua totalidade. O casal secular tem filhos apenas como projeto pessoal e com forte expectativa de retorno afetivo. No máximo dois Filhos por casal, ou nenhum. "Amamos" mais nossos filhos e de modo obsessivo. Mas esse "amor" é muito mais projeção de nossos desejos do que amor por eles." P.27

Muito da análise crítica do livro evoca tempos passados como de forma comparativa à atual, mesmo que o autor negue explicitamente, percebe-se que em sua opinião, o ontem é melhor do que o hoje. Nesse ato de evocar o passado de forma comparativa insinuando uma degradação da evolução social, questiono-me se o passado havia mais conteúdo? Éramos mais inteligentes, sábios e dignos de sermos lembrados na história.?  Não sou muito confiante nessa linha de pensamento, acredito que somos repetidores. Reprisamos os medos, defeitos e erros de nossos antepassados, apenas em um contexto diferente. Imagino que nossa curta existência e consequente mortalidade não nos ajuda a evoluir. Privilegiamos os jovens como força de trabalho, mas que por sua vivacidade há muita atitude intempestiva e inconsequente, enquanto os velhos e sábios são esquecidos relegados à sobra e alimentando apenas os seus Alzheimers. 
Pincelando sobre esse assunto, diria que o jovem imprudente e cheio de tesão criaria as coisas para o mundo novo, enquanto o VELHO, pela experiência e disciplina aperfeiçoaria a criação do jovem tornando-a factível e útil ao mundo. Mas sabemos que não é assim.

"(...) Não envelhecemos, apodrecemos. A maturidade está fora de moda. O espelho é nosso algoz. Os mais jovens, em pânico, fingindo que não, sofrem diante de pais e mães ridículos em seus modos e rostos falsamente juvenis. (...) Todos querem fingir que tudo pode ser uma balada. 'Eu me invento', eis o mandamento máximo do ressentido. Denegação absoluta." P.61 

No fim das contas, sou um narcisista. Agonia-mo de ser, fico tentado (instintivamente) arrumar um modo de não ser, de falar que os outros são, traço ai o caminho do ressentimento exposto em todo o livro. Negar e escapar não dá, tem que entender,  aceitar e enfrentar. Como? Cacete de filósofos! Cadê a resposta?