Thursday 22 May 2014

Meu velho camarada

Ao passear no shopping me deparo com uma fila fora do comum em um novo quiosque na praça de alimentação, tal quiosque vendia Picolé Frito Mexicano, uma novidade aqui em Florianópolis, acredito que também seja em todo o Brasil. Isso me fez refletir como a novidade e a exclusividade tem um valor forte para as pessoas, enquanto os produtos commoditizados facilitam nossa vida por estarem em qualquer lugar. Entendam por produtos commoditizados citados aqui: McDonalds, Lojas Americanas, Livraria Saraiva, etc. 

São bons, tem em tudo quanto é lugar e vejo que o Picolé citado acima passará a mesma percepção em breve.


Nas minhas andanças, me deparei com eventos e situações que comprovam como a novidade e a exclusividade são valorizadas, cito dois exemplos:

1) Quando morava em Goiás e viajava muito para pequenas cidades, em uma dessas viagens (que não lembro o nome da cidade), sentado e um restaurante na praça principal (exatamente aquela praça que tinha de um lado a igreja, em outro lado a prefeitura e em outro o Banco do Brasil) tinha uma faixa atravessando a rua principal bem próximo à um semáforo desligado com os dizeres que parafraseio aqui: "Neste sábado, grande inauguração do primeiro semáforo da cidade". Pensei comigo, cuma!?

2) Outro momento interessante era a ansiedade vivida pelos moradores de Guarapari, pelo menos para aquela amostra de população que eu convivia, dos rumores de que uma empresa de grande repercussão fosse aportar na cidade. O ano era lá por 1995 e o rumor digno de página de jornal era que o McDonalds poderia se instalar na cidade. Ponha isso na cabeça de um bando de adolescentes famintos que dá para se ter a ideia do estrago. No fim, nada de McDonalds o local virou uma padaria.

Acho que deu para pegar o espírito da coisa, né?

Como coisas tão banais em grandes centros, tornam-se acontecimentos sociais em outros lugares poucos quilômetros de distância?
Com esse pensamento em punho volto à ideia do meu último blog quando citei sobre o nosso hábito de transferir aos objetos (e agora instituições) uma importante carga sentimental, na esperança de que esses "pobres coitados objetos" consigam reter por tempo indeterminado nossas mais vividas lembranças de pessoas e momentos especiais onde nós nos sentimos valorizados.

Ao dissertar sobre isso, me veio um questionamento que achei muito interessante: como e com qual intensidade transferimos aos objetos um valor emocional tão intenso que criamos uma relação intima com ele ao ponto de guardamos por anos a fio e termos a sensação de perda quando ele estraga ou temos que descarta-lo?!

Tenho uma experiência pessoal para compartilhar com vocês que fala exatamente sobre isso:
"Nossa história começou em 2007, o ano mágico, estava eu lá nas terras da rainha curtindo o que a vida tinha a oferecer e sempre acompanhado com uma mochila do programa de intercâmbio. Em poucos dias, a mochila sucumbiu ao 'peso' que aquela viagem iria lhe proporcionar. Limitado por um curto orçamento, parti na busca de uma substituta e consegui achar uma promoção na GAP de uma mochila que aparentemente aguentaria a pressão daquele ano.

Logo se tornou a companheira diária para as idas à escola Aspect e ao Grange City Hotel. Não demorou muito para começar a conhecer os países da Europa comigo. Nessas viagens como muitos mochileiros faziam, comecei com o hábito de colocar bandeiras (patches) uma vez visitado cada lugar, tal hábito se tornou um vício e até hoje, 7 anos depois, ela me acompanha e, surpreendentemente, sempre arruma um espaço extra para uma nova bandeira. Não sei desde quando, mas ela passou a se chamar My Old Camarade.
Ano 01 - Apenas uma mochila da GAP
Ano 03 - Já testemunha do mundo

   
Ao longo desse tempo, ela cambaleou várias vezes, necessitando de um remendo aqui e outro ali. Aqui vale menção honrosa de agradecimento à minha mãe por ajudar nesse processo de manutenção e à Fabi no processo de custura das bandeiras. Nos últimos anos, antes de cada viagem ela passava por uma recauchutagem para aguentar a próxima aventura: o fundo que rasgou, a alça que desfiou, etc. Hoje ela está mais para um Frankenstein de tanto remendo.

Ano 6 - Boa tentativa, mas frustrada de substituição
Na viagem de 2012, a turma, gentilmente quis me homenagear e compraram uma linda mochila para substituir a combalida, e um tanto decadente, Camarade. Confesso que é linda e fiquei tentado à descusturar as bandeiras e transferir para a nova mochila, entretanto ao olhar para aquele trapo remendado, sujo e um tanto fedido eu me identifiquei. Não seria fácil me desapegar dela, mas acima de tudo, eu não queria isso, fosse o que fosse eu iria fazer de tudo para mantê-la útil para mim durante minhas viagens, pois ela era prova de que muitos dos meus sonhos se realizaram e de que poderia sonhar novos sonhos. A história dessa mochila se confunde com a minha história e por mais imperfeita que fosse era minha e era única. Todo mundo pode comprar uma mochila da GAP, os patches dos países e costura-los da mesma forma, mas nunca será uma Old Camarade."

Ano 07 - Ultimo update
Hoje ela está com problema de zíper, tenho que troca-lo e não está fácil de arrumar um novo, para os que querem ajudar o tamanho tem que ser maior de 60 cm, com 02 puxadores e ser de metal.
Valeu!