Sunday 25 October 2015

Grata surpresa

Lá pelos anos de 2004 estagiei durante um mês na empresa de engenharia do meu tio engenheiro e durante aquele período visitamos uma cidadezinha no sul da Bahia, bem de interior, clássica representação do apogeu dos coronéis do cacau da primeira metade do século XXI. 

Pois bem, durante a tal visita estávamos observando a bem cuidada praça central e seu belíssimo coreto de ferro forjado na Alemanha, quando iniciamos uma conversa sobre a influência positiva que locais belos, no sentido arquitetural e paisagístico traziam para a população daquela comunidade. Pouco tempo antes havia lido ou escutado que cidades com referencias arquitetônicas possuíam uma população com maior auto estima do que aquelas que não tinham a mesma referencia. Era latente o orgulho que a população sentia daquela pracinha e tal apreço transcendia simplesmente a manifestação do ego individual e coletivo das pessoas e refletia em ação, pois o zelo por aquele patrimônio era grande. Fato que aquela cidade era mais bem cuidada do que suas vizinhas. 

Recentemente vivenciei outro exemplo de que tal pensamento faz sentido. Em viagem a cidade de Guararema, interior paulista, deparei-me com um local muito bem cuidado, com uma infraestrutura preparada que valoriza e preserva o recurso mais valioso da cidade, o seu rio. Lá a natureza é protagonista e a infra estrutura desenvolvida pela mão humana funciona à seu favor. Diversas pontes para pedestres, passeios de madeira preservando a flora local, boa sinalização, programa de coleta seletiva (lembrando que Guararema possui 25 mil habitantes), limpeza urbana e das reservas e até calçadas no mesmo estilo em todas as casas são pequenos exemplos da estruturação da cidade. O mais marcante e significativo disso tudo é que ainda há o fator humano, pois é palpável que as pessoas da cidade acreditam nessa proposta de Ecoturismo, desde da pessoa publica (estado) que investe na contratação de monitores para educar a população a não alimentar os peixes do rio à pessoa física que busca ao máximo manter suas casas e suas ruas bem cuidadas. 

Fonte%3A%20Prefeitura%20Municipal%20de%20Guararema%20-%20www.guararema.sp.gov.br

É um ciclo virtuoso onde as pessoas compram a proposta e à defendem; o empresário investe em negócios de bom gosto e qualidade; e a prefeitura enxerga que manter aquilo pode ser muito bom para a cidade, no caso de Guararema, alem da cidade possuir ótimos restaurantes e cafés, os turistas aparecem aos montes, tomando a cidade aos finais de semana.

O terceiro e último exemplo desse ponto de vista foi observado na minha ultima ida à igreja. Lá a secretaria colocou no mural o resultado do Censo Paroquial 2015 analisando aquela comunidade especifica, mostrando a característica geosocial, etária e os principais interesses e opiniões quanto a      
vida social religiosa da população pesquisada. Quando perguntados o que gostariam de ver melhorado na igreja, a maioria da população colocou em primeiro lugar: "Reforma do som, iluminação e renovação visual da igreja". Influenciado ou não por estar escrevendo sobre esse tema, interpretei que inconscientemente o desejo da população em ter aquele lugar renovado e com isso sentir orgulho de ter o seu templo de oração ostentando beleza e inspiração.

Sempre acreditei no poder influenciador da arquitetura monumental e acho fantástico como ela inspira e eleva a moral das pessoas, defendo ainda uma política de planejamento urbano que contemple essa pratica deixando espaços dentro das cidades e verbas para esse tipo de arquitetura/urbanismo. Inconscientemente as pessoas procuram isso, como se buscassem provas da capacidade humana ou divina/natutal em construir algo maior que o indivíduo. Isso é observado desde o ato dos visitantes de Guararema rumarem para a beira rio até o enxame de pessoas indo para o Empire State em Nova York. 

Sunday 26 July 2015

Di Menor

 Na atual cruzada social que tem sido feita ao redor da discussão da maioridade penal no Brasil, mais uma vez mostramos nossa limitação para exercer um DIALOGO entre as diferentes opiniões que acabam se polarizando: direita & esquerda, liberal & conservador, certo & errado, etc. Opinião extrema sempre indica que algo não esta certo, pois em um universo tão complexo quanto a nossa sociedade, unanimidade é uma utopia que poucos anseiam em querer. Ceder e dialogar sao verbos que devem ser exercitados.

Antes de ser a favor ou contra acho que essa discussão é uma causa perdida para ambos os lados. Dos "a favor" que possuem a ilusão de que algo será mudado ou os "do contra" que perdem um tempo enorme e os nervos tentando defender suas ideias. O que deve ser analisado é a motivação que é reflexo desse projeto de lei. 
  
Acredito que essa bandeira da discussão da redução da maioridade penal é uma medida de pessoas desesperadas por justiça. Entretanto elas não entendem que não a encontram no papel, através de uma lei, mas sim em um conjunto de ações concretas e reais. Há um consenso que toda real mudança se dará através da educação, mas que educação? Essa que está ai desmotivando professores, sendo conivente com baixas performances dos alunos para simplesmente melhorar os índices e virar plataforma eleitoral que reflete, no final, em uma educação de baixíssima qualidade?    

Sem considerar esse pequeno detalhe, uma geração que seja fruto de cultura educadora demoraria, ao menos, 20 anos, ou mais, para aflorar. Considerando o ponto anterior, da qualidade da educação, vai saber se um dia conseguiremos formar essa geração. De qualquer forma o tema violência não podem esperar 02 décadas, precisam também de ações imediatas e que reflitam na diminuição efetiva da impunidade, atentando às percepções e  às conseqüências que ela gera.         

Polemizando, pela proposta a ser colocada e pela superficialidade que dediquei ao tema, imagino que colocar mais presos atras das grades já demonstrou que não resolverá nada. Uma alternativa seria adotar uma política de tolerância zero e execução rápida das sentenças que não refletissem em reclusão para crimes de baixa periculosidade. Multas, trabalho comunitário e atos de exemplificação publica, exemplo, chicotadas em publico são algumas das propostas que caracterizam por ser de rápida execução e com certo grau de eficiência vs. o encarceramento. 

O exemplo norte americano da década de 1930 onde presos trabalhavam em obras de infraestrutura do governo pode ilustrar o que quero dizer, outra pratica seriam as multas imediatas, tipo fiança, que também são largamente utilizadas. Único ponto diferente à cultura ocidental e mais polêmico é o da exemplificação pública que não é de longe a melhor alternativa, entretanto pode ser vista como ação eficaz para iniciar o fim do circulo vicioso da percepção da impunidade. A partir do momento em que houver essa percepção, os crimes e transgressões irão naturalmente diminuir. Nova York no final da década de 1980 e início da de 1990 combateu a escalada assustadora da violência que lhe afligia dessa forma, tolerância zero. É claro que medidas com essas características andam em uma linha muito tênue e que muitas vezes avançam ao exagero e tem sua eficiência limitada ao longo prazo de tempo. A resposta mais sustentável ainda é através da educação.

Observando tudo o que defendi até agora, percebo um flerte intenso da minha parte com a contradição, pois educação e repressão podem coexistir como propostas convergentes para a segurança publica? Sim, como política publica permanente e não de forma isolada e efêmera como vemos nesse projeto de lei.              





Tuesday 24 February 2015

#01a semana: Indicação leitura: "A Era do Ressentimento"

Cheguei à conclusão de que tenho que melhorar a minha leitura, pois fazia um bom tempo que um livro não me fazia mexer na cadeira de desconforto. Curto e grosso, seria a perfeita descrição desta obra que possui capítulos curtos e de rápida leitura, bom até para uma viagem de elevador (se for mais do que 10 andares).
Dentro das minhas limitações e às do próprio livro, pois o mesmo não se aprofunda muito nos temas abordados, há algumas reflexões muito interessantes que são levantadas pelo autor, que como todo filósofo que se preze só abre a sua cabeça deixando-a com mais perguntas do que respostas. Quando você se pega com a sua cabeça saindo fumaça você lembra de como a "ignorância era uma benção".



A Era do Ressentimento - Uma agenda para o contemporâneo. PONDÉ, Luiz Felipe. Leya, 2014. Tem como Primeiro ponto de destaque a forma como o autor, me provocou a refletir, através de seu vocabulário um tanto quanto"chulo" que me gerou varios desconfortos, "- Pô, que babaca esse cara!", poderia ter usado um palavras mais "civilizadas", mas com o decorrer do livro percebi duas coisas: 01) que quando ele se utilizava desse modo de escrever a medida que me incomodava, percebia que aquela parte era a que me chamava mais atenção e daí as reflexões para esse tema eram mais intensas. O vocabulário chulo era como o autor dava intensidade às suas frases sem utilizar o ponto de exclamação "!". 02) por se tratar de de um tema contemporâneo, o meu dia a dia e os meus hábitos foram alvo da crítica do livro.
Aproveito esse gancho e entro em um dos temas que mais evocados no livro: o narcisismo da sociedade "digital". Pondé não mede palavras para criticar a forma como a sociedade comporta-se hoje, principalmente, através das redes sociais.

"(...).Lembrarão de nós como mimados, ressentidos e covardes.(...)" p.20

"(...). O fato das pessoas se comunicarem e de haver relações econômicas globais e computadores que "se comunicam", não implica em "redes" de significado integrado ou processual, isto é, não há nenhum avanço total na sociedade. Cada pessoa ou grupo se move em cultura de significado e valores distintos e conflitantes, (...)" P.24

Sempre gostei e vivenciei (sem sofrer muito) do conceito de "sozinho na multidão", este mal, síndrome ou qualquer diagnóstico que queiram dar é sistêmico nos grandes conglomerados humanos e o autor trata do tema já vencendo a etapa dos seus efeitos sintomáticos indo direto para analisar as suas consequências sociais e antropológicas. O vazio da alma existente sem consciência e sem perspectiva de cura faz com que os instintos de sobrevivência e de evitar a dor criem artifícios para maquiar a dura realidade. Percebendo o alívio momentâneo, as pessoas exacerbam a importância e o significado dessa maquiagem, distorcendo os valores reais e tornam-se extremamente narcisistas.

"o narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é miserável afetivo. Mas por viver se lambendo, pensando ser ele alguém que se ama muito, sendo que, no entanto, é justamente ao contrário. Incapaz de ter vínculos, o narcisista vive a serviço de si mesmo. (...)" P.41

"(...). Não há cura para uma verdade, apenas modelos de enfrentá-la ou evitá-la. A covardia contemporânea é nosso modo específico de evitar essa verdade íntima." P.44

O parque de diversões do narcisista e da sociedade ressentida são as redes sociais os olhos de Pondé. 

"(...) A vida comunidade encolheu na sua totalidade. O casal secular tem filhos apenas como projeto pessoal e com forte expectativa de retorno afetivo. No máximo dois Filhos por casal, ou nenhum. "Amamos" mais nossos filhos e de modo obsessivo. Mas esse "amor" é muito mais projeção de nossos desejos do que amor por eles." P.27

Muito da análise crítica do livro evoca tempos passados como de forma comparativa à atual, mesmo que o autor negue explicitamente, percebe-se que em sua opinião, o ontem é melhor do que o hoje. Nesse ato de evocar o passado de forma comparativa insinuando uma degradação da evolução social, questiono-me se o passado havia mais conteúdo? Éramos mais inteligentes, sábios e dignos de sermos lembrados na história.?  Não sou muito confiante nessa linha de pensamento, acredito que somos repetidores. Reprisamos os medos, defeitos e erros de nossos antepassados, apenas em um contexto diferente. Imagino que nossa curta existência e consequente mortalidade não nos ajuda a evoluir. Privilegiamos os jovens como força de trabalho, mas que por sua vivacidade há muita atitude intempestiva e inconsequente, enquanto os velhos e sábios são esquecidos relegados à sobra e alimentando apenas os seus Alzheimers. 
Pincelando sobre esse assunto, diria que o jovem imprudente e cheio de tesão criaria as coisas para o mundo novo, enquanto o VELHO, pela experiência e disciplina aperfeiçoaria a criação do jovem tornando-a factível e útil ao mundo. Mas sabemos que não é assim.

"(...) Não envelhecemos, apodrecemos. A maturidade está fora de moda. O espelho é nosso algoz. Os mais jovens, em pânico, fingindo que não, sofrem diante de pais e mães ridículos em seus modos e rostos falsamente juvenis. (...) Todos querem fingir que tudo pode ser uma balada. 'Eu me invento', eis o mandamento máximo do ressentido. Denegação absoluta." P.61 

No fim das contas, sou um narcisista. Agonia-mo de ser, fico tentado (instintivamente) arrumar um modo de não ser, de falar que os outros são, traço ai o caminho do ressentimento exposto em todo o livro. Negar e escapar não dá, tem que entender,  aceitar e enfrentar. Como? Cacete de filósofos! Cadê a resposta?

Monday 12 January 2015

“48 a contar”, por que começar? (#00)

Ano novo surge sempre com muitas frustações de promessas não cumpridas do ano anterior: o peso que ganhei ao invés de perder, os livros não lidos, a língua nova que só ficou no papel, etc. A lista sempre é grande, mas ao mesmo tempo, o ano novo traz um horizonte de novidades e que tudo é possível apesar das nossas limitações, fraquezas e senso de auto sabotagem.

Como sonhar não custa nada, ainda mais na virada de ano, um texto que li (esqueci o autor e a fonte) me inspiraram a fazer esse projeto que de inédito não tem nada (apenas para mim).

“48 a contar” trata-se de um compromisso semanal de ter uma estória nova para contar baseado em experiências das mais variadas e que para mim, foi diferente à minha rotina.
É um exercício que busca me tirar da zona de conforto, sair do hábito cotidiano, conhecer lugares e vivenciar experiências novas. Isso provoca a criatividade, a imaginação e por que não, fazer sonhar mais?

Vale de tudo: cozinhar, ir em um lugar novo, fazer uma atividade diferente, ver um filme novo, ou até mesmo fazer mais do mesmo, mas de uma forma ou sob uma ótica reflexiva diferente. Acima de tudo, é algo que eu consiga chegar no final e dizer que foi relevante para mim. Dessa forma, caro leitor, você pode se sentir empolgado ou entediado, mas esse é um projeto um tanto egoísta que é feito para mim. Outros gostarem, ou acharem legal é um efeito colateral muito bacana e que não tenho a pretensão ou a expectativa de ter, mas de qualquer forma, todos estão convidados a participar lendo, comentando e, por que, não juntar-se em um projeto próprio!

Já estamos entrando na segunda semana de janeiro. Vou acabar postando uma história atrasado, mas a ideia é manter o cronograma.


Que comece a aventura...