Wednesday 24 December 2014

Fragmentos de uma viagem: Lima, Peru

Um projeto de anos com amigos de faculdade que demorou uns 07 meses de programação e que em setembro de 2013 se realizou. Esse é o contexto dessa viagem que tem como destino Machu Picchu, a ultima cidade do império Inca, preservada pelas montanhas e que fascina o mundo inteiro.

Pois bem, nossa viagem de 15 dias tem como porta de entrada a capital do Peru, Lima.

Lima, dia 01 

3 é igual à 2,5! Com essa afirmação começamos nossa viagem. Pois entraram 3 no avião em São Paulo e só saíram 2,5, pois o Rivotril não permitiu o Rodrigo estar nem 50% presente na chagada à capital Peruana. Mongol e babando ele foi pelo tour que fizemos pela orla do famoso bairro de Miraflores, só acordando um pouco ao chegar no restaurante para apreciar a tradicional culinária peruana regado, é claro, à Drinks de Pisco.



Aos poucos toda a turma foi tendo seu índice de sobriedade comprometida pelo cansaço e tudo o que passamos a querer. Às 2:30h fizemos nosso check in no albergue Pariwana. O Rodrigo estava tão drogado pelos remédios que nem tomou banho, embora fomos perceber ao longo da viagem que o não tomar banho virou um hábito independente do remédio.


LIMA, dia 2.

Ao invés de acordar com um Bom dia dos amigos, fomos despertados com um fúnebre: "SALKANTAY" proferido pelo Rodrigo. O negocio foi tão sinistro que ficou marcado. Foi também nesta manha que surgiu o bordão  "estou empasinado" por conta do super jantar do dia anterior. Ficamos repetindo esta frase praticamente a viagem inteira.

Tour por Pachacamaca no ônibus panorâmico e por Lima (Miraflores, Barranco, playas). 40km separa Pachacamaca do centro de Lima, um sítio arqueológico de mais de 1500 anos e que teve sua arquitetura influenciada pelos Incas, Limas (resto dos povos) e outros povos pre colombianos.


Nesse segundo dia, o Elton já ia demonstrando que é um sujeito de fácil adaptação e rápido aprendizado à cultura local e já ia dando sinais de fluência na língua italiana (!!!!). Sua interação era absoluta, não importando a nacionalidade: americanos, peruanos, argentinos recebiam um caloroso "Grazie" do nosso amigo profeta.

Após a visita no sítio, fomos almoçar em um restaurante temático com exibição de cavalos (dPaso). Local bem turistão, mas ainda tem o seu valor. Como não poderia faltar a gastronomia do lugar era típica e de ótima qualidade, mas a um preço salgado bem salgado. Entretanto o fato de estar num lugar onde todos estão de férias ajuda a criar um clima bastante propício e descontraído para a diversão, e foi exatamente isso que aconteceu. No final do almoço vários "amigos" foram feitos!


Mas o melhor do dia ainda estava para acontecer. No período da tarde fomos ao Mistura - Festival internacional de Gastronômia do Peru. Festival muito famoso e concorrido evento com muita gente (publico de oktoberfest). O alto do evento é o vasto cardápio oferecido em galpões regionais (com vários restaurantes) de todas as regiões do pais: mundo amazônico, mundo das brasas, mundo limeno, mundo andino, mundo oriental, mundo ceviche, etc).

Apesar do alto índice de empasinamento do Elton, esse é, de longe, o melhor festival gastronômico que já fui, pois reuniu em um único lugar diversidade, qualidade e a um preço justo (13 soles o prato +/- R$ 11). Como coadjuvante, boa música e danças folclóricas! Imagino que haja uma "curadoria" para o evento, pois foi muito certeiro todas atrações. Brasil aprenda com o Mistura!

Outro ponto forte do evento (e da viagem em geral) foi a interação e receptividade do povo peruano, é algo realmente de se deixar em nota. Prestatividade de estar sempre ajudando, recomendando lugares e comidas, como fazer para se deslocar de forma segura e barata sem pedir nada em troca foi algo que nos chamou atenção, especialmente o Rodrigo que ao ir embora do evento, tão sensibilizado por esse espirito, anunciou ao taxista Raul, que nos levou de volta para o Hostel, que acabara de obter a dupla cidadania, tornando-se ali também um Peruano.

Esse aspecto de interatividade com o povo local rendeu mais um momento para ser contato ao longo dos anos. Estava lá, na fila do banheiro, os 3 amigos sem noção conversando entre si coisas ainda mais sem noção. Obviamente que a empolgação do Elton ao retratar um episódio do Porta dos Fundos, fatalmente acabaria repercutindo nas pessoas ao lado, esse caso especifico estamos falando de "Raul" (nome fictício dado ao nosso amigo da história). O episódio em questão falava de um homem que resolve provar que o colega de trabalho é viado e para tal se dispõe a dar a "bundinha" para e ele. Lá no meio da história, bem longe do clímax o Rodrigo cutuca nós dois ao perceber que o, ainda desconhecido, Raul estava com o rosto grudado no ombro do Elton ouvindo a história e se matando de rir. Foi a deixa para chama-lo à roda e fazer com que o Elton tentasse terminar a história antes que a nossa vez no banheiro chegasse. Entretanto a estória passou a ser praticamente impossível de ser terminada, pois um número incontável de sessões de risadas iniciou-se a partir daquele momento. Por fim, o Elton não conseguiu terminar de contar o episódio, mas ficou o registro de mais um amigo deixado pelo caminho.


Já era noite e o nosso "real" primeiro dia no Peru havia chegado no fim e Lima havia se mostrado muito mais do que um mero porto de entrada no Peru, mas sim um belo cartão de visitas que vale a pena visitar por uns 3 dias.

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Algumas dicas para os viajantes que queiram contar suas histórias:
 
1) Caso você vá viajar para qualquer lugar e deseje fazer um relato dos dias que você passou lá, faça um resumo diariamente e de forma dissertativa, pois se passar uma semana que seja a experiência não será a mesma, nem o relato. Por conta disso, você verá nesse blog, ou na série deles, que os relatos são fragmentos vividos do que passamos, mas não havendo uma conexão forte entre os relatos.

2) Ao viajar viajar com amigos, a bobeira impera, dessa forma o leitor perceberá a descrição de muitas dessas passagens, sendo elas sem sentido e um tanto sem importância, mas esses detalhes construíram a maravilha de viagem que foi.


Thursday 22 May 2014

Meu velho camarada

Ao passear no shopping me deparo com uma fila fora do comum em um novo quiosque na praça de alimentação, tal quiosque vendia Picolé Frito Mexicano, uma novidade aqui em Florianópolis, acredito que também seja em todo o Brasil. Isso me fez refletir como a novidade e a exclusividade tem um valor forte para as pessoas, enquanto os produtos commoditizados facilitam nossa vida por estarem em qualquer lugar. Entendam por produtos commoditizados citados aqui: McDonalds, Lojas Americanas, Livraria Saraiva, etc. 

São bons, tem em tudo quanto é lugar e vejo que o Picolé citado acima passará a mesma percepção em breve.


Nas minhas andanças, me deparei com eventos e situações que comprovam como a novidade e a exclusividade são valorizadas, cito dois exemplos:

1) Quando morava em Goiás e viajava muito para pequenas cidades, em uma dessas viagens (que não lembro o nome da cidade), sentado e um restaurante na praça principal (exatamente aquela praça que tinha de um lado a igreja, em outro lado a prefeitura e em outro o Banco do Brasil) tinha uma faixa atravessando a rua principal bem próximo à um semáforo desligado com os dizeres que parafraseio aqui: "Neste sábado, grande inauguração do primeiro semáforo da cidade". Pensei comigo, cuma!?

2) Outro momento interessante era a ansiedade vivida pelos moradores de Guarapari, pelo menos para aquela amostra de população que eu convivia, dos rumores de que uma empresa de grande repercussão fosse aportar na cidade. O ano era lá por 1995 e o rumor digno de página de jornal era que o McDonalds poderia se instalar na cidade. Ponha isso na cabeça de um bando de adolescentes famintos que dá para se ter a ideia do estrago. No fim, nada de McDonalds o local virou uma padaria.

Acho que deu para pegar o espírito da coisa, né?

Como coisas tão banais em grandes centros, tornam-se acontecimentos sociais em outros lugares poucos quilômetros de distância?
Com esse pensamento em punho volto à ideia do meu último blog quando citei sobre o nosso hábito de transferir aos objetos (e agora instituições) uma importante carga sentimental, na esperança de que esses "pobres coitados objetos" consigam reter por tempo indeterminado nossas mais vividas lembranças de pessoas e momentos especiais onde nós nos sentimos valorizados.

Ao dissertar sobre isso, me veio um questionamento que achei muito interessante: como e com qual intensidade transferimos aos objetos um valor emocional tão intenso que criamos uma relação intima com ele ao ponto de guardamos por anos a fio e termos a sensação de perda quando ele estraga ou temos que descarta-lo?!

Tenho uma experiência pessoal para compartilhar com vocês que fala exatamente sobre isso:
"Nossa história começou em 2007, o ano mágico, estava eu lá nas terras da rainha curtindo o que a vida tinha a oferecer e sempre acompanhado com uma mochila do programa de intercâmbio. Em poucos dias, a mochila sucumbiu ao 'peso' que aquela viagem iria lhe proporcionar. Limitado por um curto orçamento, parti na busca de uma substituta e consegui achar uma promoção na GAP de uma mochila que aparentemente aguentaria a pressão daquele ano.

Logo se tornou a companheira diária para as idas à escola Aspect e ao Grange City Hotel. Não demorou muito para começar a conhecer os países da Europa comigo. Nessas viagens como muitos mochileiros faziam, comecei com o hábito de colocar bandeiras (patches) uma vez visitado cada lugar, tal hábito se tornou um vício e até hoje, 7 anos depois, ela me acompanha e, surpreendentemente, sempre arruma um espaço extra para uma nova bandeira. Não sei desde quando, mas ela passou a se chamar My Old Camarade.
Ano 01 - Apenas uma mochila da GAP
Ano 03 - Já testemunha do mundo

   
Ao longo desse tempo, ela cambaleou várias vezes, necessitando de um remendo aqui e outro ali. Aqui vale menção honrosa de agradecimento à minha mãe por ajudar nesse processo de manutenção e à Fabi no processo de custura das bandeiras. Nos últimos anos, antes de cada viagem ela passava por uma recauchutagem para aguentar a próxima aventura: o fundo que rasgou, a alça que desfiou, etc. Hoje ela está mais para um Frankenstein de tanto remendo.

Ano 6 - Boa tentativa, mas frustrada de substituição
Na viagem de 2012, a turma, gentilmente quis me homenagear e compraram uma linda mochila para substituir a combalida, e um tanto decadente, Camarade. Confesso que é linda e fiquei tentado à descusturar as bandeiras e transferir para a nova mochila, entretanto ao olhar para aquele trapo remendado, sujo e um tanto fedido eu me identifiquei. Não seria fácil me desapegar dela, mas acima de tudo, eu não queria isso, fosse o que fosse eu iria fazer de tudo para mantê-la útil para mim durante minhas viagens, pois ela era prova de que muitos dos meus sonhos se realizaram e de que poderia sonhar novos sonhos. A história dessa mochila se confunde com a minha história e por mais imperfeita que fosse era minha e era única. Todo mundo pode comprar uma mochila da GAP, os patches dos países e costura-los da mesma forma, mas nunca será uma Old Camarade."

Ano 07 - Ultimo update
Hoje ela está com problema de zíper, tenho que troca-lo e não está fácil de arrumar um novo, para os que querem ajudar o tamanho tem que ser maior de 60 cm, com 02 puxadores e ser de metal.
Valeu!

Monday 3 February 2014

Vai um "recordation"?

"Viajem é o oxigênio da alma" quem já não escutou alguma vez essa máxima?! 
De fato é! Saímos da rotina, nos deparamos com pessoas e culturas diferentes que expandem nosso horizonte mostrando que o mundo é muito mais do que nossas 8 horas de trabalho e as 8 horas de sono.
Nesses contatos com pessoas e lugares somos entorpecidos com uma sensação muito boa toda aquela carga cultural e exótica que temos contato faz com que ansiamos enormemente por parte daquilo. Desejamos possuir mais dessa experiência do que aqueles breves minutos ou horas, queremos carregar aquela sensação muito além daquele momento e que seja além de uma breve lembrança que o tempo e o dia a dia se encarregarão de tornar mais desfocado e menos colorido.    
Por conta disso, recorremos à todos os subterfúgios disponíveis: entupimos nossas câmeras de fotos, gastamos muitos reais (já convertidos) em restaurantes de comidas típicas, e outros tantos reais comprando objetos ou lembrancinhas (como acharem melhor) que acreditamos ter o poder de reter nele toda aquela magia ali vivenciada.
Quando retornamos, aquela lembrança já não é mais um mero objeto, ela tornou-se um ídolo cheio de valor e é colocado em local de destaque em nossa casa, trazendo constante recordação de toda alegria vivenciada naquele momento.  
O tempo vai passando, e as lembranças recentes da viagem vão sendo substituídas pela conta de Iptu paga, pelo novo modelo de carro que foi lançado e de como trabalhamos muito na última semanas. O ídolo vira paisagem, entra no lugar comum e dificilmente despertando suspiros de um momento mágico vivido em um passado que agora parece tão distante. 
Subitamente o ÍDOLO vai para uma categoria que chamaria de  "PÁQUESERVE?", denominação esta que faz você tecer a seguinte frase
" - Onde estava com a cabeça quando comprei isso?!"
Subitamente, além do objeto não possuir mais nenhum valor e não acessar mais nenhum desejo e memória que o justificasse estar ali, ele passa a ser um estorvo, incomodando e finalmente sendo posto de lado proporcionando uma sensação de alívio. 
Mas o que mudou?
O objeto ou nós mesmos? Por mais óbvio que pareça, digo que o que foi que mudou fomos nós! Voltamos a achar que o nosso mundo se resume ao Iptu, à vangloriar novos carros e aos problemas do trabalho, colocamos novamente a viseira de burro e achamos que o nosso mundo se resume à isso (que o "isso" seja a coisa e a rotina mais banal que você quiser achar).
Termino esse blog falando outro bordão que vai resumir a mensagem final: 
"- Viajar é preciso!"
Mesmo que a viagem seja dentro do seu apartamento olhando para aquele banal objeto colocado em sua prateleira, mas que você não olha com os menos olhos de antigamente.