Thursday 30 April 2009

- Eu amo minha máquina de lavar! Ciclo 01

“Valorise mais os objetos do seu dia a dia."

Essa frase danada já me persegue há bastante tempo. Posso dizer que a discussão em torno dela teve vários lados, o qual eu fui ferrenho defensor (em alguns deles ainda sou militante).

São 3 ciclos de pensamento.

A história remota e inicia dos tempos de Raiz Design e aulas de sociologia na faculdade. Tempos de inquietação, tempos apaixonantes. A frase em questão não era necessariamente essa, mas o substantivo era o mesmo – o objeto. As discussões partiam de uma fagulha do pensamento (crítica) de Marx sobre a sociedade capitalista e seu culto ao objeto.

Sinteticamente, discutíamos a forma como a sociedade colocou os objetos como norteadores das relações humanas. Exemplos disso têm aos muitos: Os pré conceitos que fazemos das pessoas ao usarem certo tipo de roupa: são marginais, patricinhas, playboys, caretas, cafonas. Basta ver e dar o perfil e história da pessoa por completo.

- Me diga o que tens que eu direi quem tu és!

Esssa frase transmite toda a insensatez da nossa sociedade, o chamado consumismo. É impressionante e inacreditável como isso está impregnado em nós. A busca da felicidade acontece hoje nos shopping centers. Acontece comigo e acontece com você, não tem como negar, nem como fugir. A ânsia de comprar e a felicidade de ter a posse, a sacola colorida em mãos gera um prazer imenso, mas é um prazer curto como um orgasmo, pouco tempo depois o vazio volta e mais uma vez pegamos a nossa lista de coisas que faltam ter em casa e partimos novamente ao shopping atrás daquele maravilhos cortador de cabelos do nariz que não sabemos como ficamos 20 e tantos anos vivendo sem ele.

Essa pandemia é cultural e é cultivada desde a infância. A escola é o inferno ou o paraíso para isso. Ter algo para mostrar e fazer inveja nos amigos da escola é carregado para a vida adulta e nem é preciso citar exemplos.

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Estava lendo na revista VIDA SIMPLES (edição de maio de 2009) um depoimento interessante do professor de design da ESPM, Rique Nietzsche, sobre um trabalho que um grupo de fotógrafos havia feito ao redor do mundo. Nesse trabalho foi pedido à famílias de vários países que expusessem em frente às suas casas os objetos que achavam essenciais para viver. Resultado: uma familia de Los Angeles expôs 4.000 objetos, enquanto uma família de um país da África (não informado) expôs apenas 30.

Cabe lembrar que não se trata de poder aquisitivo, a proposta do trabalho foi clara: objetos essenciais para a vida. Ambas as famílias estão vivendo, é claro que – provavelmente - uma melhor que a outra, mas não necessariamente por conta daqueles 3.970 objetos à mais que a família americana possui.

Um ar-condicionado gera conforto? Claro que sim! Mas um ventilador atende perfeitamente em alguns lugares. Em BH, nem ventilador eu tinha, imagina ar condicionado.

Ao ir lendo essa reportagem fui imaginando os objetos que estavam na minha lista de próximas aquisições e fiquei espantado. Constatei que 75% dos objetos listados eu simplismente não preciso e olha que já estava na iminência de comprá-los.

Vup! cortei o mal pela raiz. Saíram da minha lista na mesma hora!

Vou terminando o primeiro ciclo de pensamento do blog – Eu amo minha máquina de lavar – com uma reflexão: Precisamos de tudo que temos e desejamos? Melhor… estamos dispostos a abrir mão desses desejos (não absolutamente, mas parcialmente)?

Mais inquietações no próximo blog!